Webinário debate saúde materna em tempos de pandemia

Dados apresentados De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 830 mulheres morrem todos os dias no mundo por complicações na gravidez e no parto. O dado apresentado pela promotora de Justiça Patrícia Medrado, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde (Cesau) do Ministério público estadual revela a importância de debater o tema, mesmo em tempos de pandemia. “Precisamos combater a mortalidade materna evitável e para isso não podemos descuidar dessas mulheres em tempos de pandemia. Não se pode diminuir o foco nos cuidados por conta da atenção requerida pelo combate à Covid-19”, pontuou Patrícia Medrado, no início do encontro, realizado no formato de videoconferência, na manhã de hoje, dia 8, e transmitido para todo o estado por meio da plataforma Teams.

Promovido pelo Cesau em parceria com o Centro de estudos e aperfeiçoamento Funcional (Ceaf), a abertura do evento contou ainda com a participação dos promotores de Justiça Tiago Quadros e Andréa Scaff Mota, respectivamente coordenador do Ceaf e gerente do Projeto Cegonha. O quadro gerado pela Covid-19 é grave e demanda atenção e recursos especiais, porém não podemos deixar de tratar de questões  fundamentais como a saúde materna, mesmo em tempos de pandemia”, afirmou Tiago Quadros. A coordenadora do projeto cegonha, promotora Andréa Scaff, destacou que é preciso difundir as boas práticas, mas também repensar os velhos problemas. “somente assim podemos corrigir os rumos na saúde materna, mesclando teoria e prática”, como estamos fazendo nesse encontro.

Na palestra de abertura, a médica especialista em reprodução humana, Karina de Sá Brandão falou sobre o planejamento reprodutivo no sistema Único de Saúde (SUS). A médica destacou a importância dos serviços públicos de saúde como ferramentas fundamentais para propiciar o acesso das mulheres aos seus direitos reprodutivos. “As pessoas têm o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e toda ação médica nesse sentido precisa ser autorizada”, destacou a especialista, salientando que nenhum procedimento relacionado à reprodução pode ser tomada pelo médico unilateralmente sem que consulte a mãe do bebê. “O planejamento reprodutivo passa por questões de natureza não apenas médica, mas também psicossociais. É um espectro muito amplo para ser abordado apenas sob o viés da saúde”, salientou Karina.

Para o ginecologista e obstetra Davi Costa Nunes Júnior, diretor de gestão de cuidados da Sesab, é preciso mudar o paradigma histórico que pensa a saúde da mulher sob uma ótica “meramente reprodutiva”. “Quando se nega à mulher o acesso a medicamentos e procedimentos contraceptivos, na verdade está sendo tirada dela parte da sua cidadania”, frisou o primeiro debatedor. Manoel Henrique Pereira, coordenador Estadual de Apoio Institucional do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) e segundo debatedor, descreveu o acesso aos serviços de saúde como peça fundamental no processo de empoderamento feminino “Cabe à atenção básica disponibilizar todos os serviços existentes para que as mulheres exercer seu direito reprodutivo”, reforçou.

A médica ginecologista e obstetra Ana Gabriela Travassos falou sobre prevenção e tratamento da sífilis e destacou a gravidade da doença, que gera consequências como psicoses. Além do diagnóstico, que deve incluir exames laboratoriais e de anamnese, a médica ressaltou a importância de3 tratar todos os parceiros envolvidos na relação. “Outro ponto fundamental é acompanhar os pacientes depois do início do tratamento, pois a doença exige continuidade terapêutica, sob pena de retornar com sintomas ainda mais graves”, frisou ela. Para a promotora de Justiça juliana Rocha Sampaio, co-gerente do Projeto Cegonha e debatedora do tema, a prevenção da sífilis congênita entre as gestantes traz à luz alguns dos pilares do Sistema Único de Saúde. O tratamento da doença, explicou a promotora, deve ser realizado em pelo menos 90% das gestantes, conforme orientações da OMS. “No entanto, na Bahia, menos de 40% das gestantes realiza a testagem e a meta de 90% só é atingida por três municípios do estado”, salientou a promotora, que afirmou também acreditar que a maioria dos casos de sífilis congênita de bebês se deve à falta do diagnóstico precoce. “Se a meta da OMS fosse cumprida, muitos desses bebês não chegariam a contrair a doença, pois as mães estariam tratadas no momento do parto”, concluiu.

As médicas Sandra Renata Noronha e Lila Melo, ambas integrantes do Comitê Estadual de Estudo da Mortalidade Materna na Bahia falaram sobre o processo de investigação de óbitos maternos. Elas falaram do passo a passo na investigação das causas e responsabilidades a partir de um caso prático. As médicas salientaram o papel da covid-19 no aumento da casos de óbito materno no estado. Em 2019, foram cerca de 49.700 óbitos; em 2020, esse número, que ainda não está fechado, saltou para 77.100, afirmou, pontuando que as mortes se dão “tanto pelo agravamento do risco entre as gestantes que contraem a doença, como, principalmente, pelo foco que saúde de uma forma geral tem direcionado atenção e recursos para o tratamento da pandemia.

Redator: Gabriel Pinheiro (DRT-BA 2233

Fotos: Humberto Filho (Cecom / Imprensa)

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